• 2/3: As ramificações de um complot

  • 2024/09/19
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2/3: As ramificações de um complot

  • サマリー

  • Há mais de 50 anos, o líder separatista guineense de ascendência cabo-verdiana Amílcar Cabral foi assassinado em Conacri, então base de retaguarda do seu movimento, o PAIGC. De imediato, o poder guineense apontou o dedo ao “imperialismo” que “acabava de cometer um dos crimes mais hediondos e ignobéis na República da Guiné”. O que sabe, cinquenta anos depois, destes autores do complot da operação? É o que descobrimos neste segundo episódio desta série. Morte, conspiração, traição. Durante as décadas de 1960 e de 1970, os líderes africanos progressistas ou revolucionários vivem a olhar constantemente para o fundo do espelho, para os fantasmas da insegurança. Lumumba, Um Nyobé, Moumié foram assassinados. Nkrumah foi derrubado. O moçambicano Eduardo Mondlane morreu numa explosão com uma carta armadilhada.A 13 de Maio de 1972, enquanto Conacri presta homenagem a Kwame Nkrumah - o pai da independência do Gana que acaba de morrer num hospital em Bucareste - Amilcar Cabral declarava: "Que ninguém nos venha dizer...", afirma em francês, "...que Nkrumah morreu com um cancro na garganta ou de outra doença. Não, Nkrumah foi morto pelo cancro da traição que devemos erradicar, cujas raízes devemos erradicar de África se realmente quisermos acabar, definitivamente, com a dominação imperialista neste continente".O cancro da traição corrói o PAIGC, o movimento de independência da Guiné-Bissau, há algum tempo. “A partir de meados da década de 1960”, escreve um dos biógrafos de Amílcar Cabral, António Tomás, “os elementos do partido começam a ver Cabral como um problema, como fica evidenciado pelo grande número de conspirações contra ele”. [1] Em 1967, explica este autor, um julgamento condenou à pena de morte os activistas Honório Sanches Vaz e Miguel Embaná, acusados ​​de terem tentado matar Cabral.Em 1969, um militante apelidado de "Jonjon" é detido no secretariado quando se preparava para atirar uma granada contra o líder independentista. Um ano depois, uma operação denominada “Amílcar Cabral” foi lançada pela polícia secreta do Estado Novo, do regime do ditador português António de Oliveira Salazar [PIDE, Polícia Internacional e de Defesa do Estado] com base num cabo-verdiano chamado "Lachol", residente em Dacar. “Estes planos ficaram marcados pelo amadorismo, escreve António Tomás, e não preocupavam Cabral".No entanto, a ameaça está bem presente. Em Março de 1972, Amilcar Cabral redigiu um memorando no qual explica que os portugueses conseguiram infiltrar-se no PAIGC para eliminar os seus principais dirigentes. Ele detalha os passos desse plano: primeiro ,a infiltração de agentes africanos vindos de Bissau que dirão querer juntar-se à luta. Alguns deles teriam saído, recentemente, de prisão onde terão sido treinados pela PIDE com técnicas para desestabilizar a organização. Depois de integrarem o movimento, iriam tentar dividi-lo, criariam uma direcção paralela para se tentar impor para destruir a autoridade de Cabral, permitindo a sua saída ou eliminação física.Cinquenta anos depois, os arquivos da PIDE e da sua sucessora, a Direcção-Geral de Segurança (DGS, nota do editor) confirmam que o PAIGC conseguiu, efectivamente, infiltrar-se com agentes ligados a Lisboa. O jornalista de investigação José Pédro Castanheira cita relatos transmitidos por três destes agentes aos serviços portugueses e ilustra a proximidade de um deles a Cabral [2].Investigação documental de Bruno CrimiNo entanto, será possível dizer-se que os serviços portugueses organizaram os acontecimentos de Janeiro de 1973? Dois anos depois do assassínio, o jornalista Bruno Crimi assinou, nas colunas da revista Jeune Afrique, um dos artigos mais completos (nessa altura) sobre o caso. Bruno Crimi diz ter conseguido ter acesso, depois da Revolução dos Cravos de Abril de 1974, “a documentos guardados zelosamente nos arquivos da PIDE-DGS, na rua António Maria Cardoso, na capital”. Descreve com rigor, citando nomes e datas, o papel desempenhado pela polícia política portuguesa na morte de Cabral. O seu relato, que a RFI pôde confirmar tendo acesso a novas fontes, avança com dados precisos que merecem ser resumidos.Segundo Bruno Crimi, o destino de Cabral estava traçado no início de 1972. O primeiro-ministro português, Marcelo Caetano, precisava de um impulso para contra-balançar as vitórias dos independentistas nas colónias portuguesas em África. Marcelo Caetado recorre a determinados serviços para o efeito. Um homem, explica Bruno Crimi, ocupa o centro das atenções: Barbieri Cardoso, que depois de ter sido vice-director da PIDE se tornou, em meados dos anos 60, o chefe dos serviços de informação dos "territórios ultramarinos". Foi ele quem organizou o rapto e depois o assassínio do general Humberto Delgado, opositor ao regime de Salazar. O caso Cabral foi-lhe ...
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あらすじ・解説

Há mais de 50 anos, o líder separatista guineense de ascendência cabo-verdiana Amílcar Cabral foi assassinado em Conacri, então base de retaguarda do seu movimento, o PAIGC. De imediato, o poder guineense apontou o dedo ao “imperialismo” que “acabava de cometer um dos crimes mais hediondos e ignobéis na República da Guiné”. O que sabe, cinquenta anos depois, destes autores do complot da operação? É o que descobrimos neste segundo episódio desta série. Morte, conspiração, traição. Durante as décadas de 1960 e de 1970, os líderes africanos progressistas ou revolucionários vivem a olhar constantemente para o fundo do espelho, para os fantasmas da insegurança. Lumumba, Um Nyobé, Moumié foram assassinados. Nkrumah foi derrubado. O moçambicano Eduardo Mondlane morreu numa explosão com uma carta armadilhada.A 13 de Maio de 1972, enquanto Conacri presta homenagem a Kwame Nkrumah - o pai da independência do Gana que acaba de morrer num hospital em Bucareste - Amilcar Cabral declarava: "Que ninguém nos venha dizer...", afirma em francês, "...que Nkrumah morreu com um cancro na garganta ou de outra doença. Não, Nkrumah foi morto pelo cancro da traição que devemos erradicar, cujas raízes devemos erradicar de África se realmente quisermos acabar, definitivamente, com a dominação imperialista neste continente".O cancro da traição corrói o PAIGC, o movimento de independência da Guiné-Bissau, há algum tempo. “A partir de meados da década de 1960”, escreve um dos biógrafos de Amílcar Cabral, António Tomás, “os elementos do partido começam a ver Cabral como um problema, como fica evidenciado pelo grande número de conspirações contra ele”. [1] Em 1967, explica este autor, um julgamento condenou à pena de morte os activistas Honório Sanches Vaz e Miguel Embaná, acusados ​​de terem tentado matar Cabral.Em 1969, um militante apelidado de "Jonjon" é detido no secretariado quando se preparava para atirar uma granada contra o líder independentista. Um ano depois, uma operação denominada “Amílcar Cabral” foi lançada pela polícia secreta do Estado Novo, do regime do ditador português António de Oliveira Salazar [PIDE, Polícia Internacional e de Defesa do Estado] com base num cabo-verdiano chamado "Lachol", residente em Dacar. “Estes planos ficaram marcados pelo amadorismo, escreve António Tomás, e não preocupavam Cabral".No entanto, a ameaça está bem presente. Em Março de 1972, Amilcar Cabral redigiu um memorando no qual explica que os portugueses conseguiram infiltrar-se no PAIGC para eliminar os seus principais dirigentes. Ele detalha os passos desse plano: primeiro ,a infiltração de agentes africanos vindos de Bissau que dirão querer juntar-se à luta. Alguns deles teriam saído, recentemente, de prisão onde terão sido treinados pela PIDE com técnicas para desestabilizar a organização. Depois de integrarem o movimento, iriam tentar dividi-lo, criariam uma direcção paralela para se tentar impor para destruir a autoridade de Cabral, permitindo a sua saída ou eliminação física.Cinquenta anos depois, os arquivos da PIDE e da sua sucessora, a Direcção-Geral de Segurança (DGS, nota do editor) confirmam que o PAIGC conseguiu, efectivamente, infiltrar-se com agentes ligados a Lisboa. O jornalista de investigação José Pédro Castanheira cita relatos transmitidos por três destes agentes aos serviços portugueses e ilustra a proximidade de um deles a Cabral [2].Investigação documental de Bruno CrimiNo entanto, será possível dizer-se que os serviços portugueses organizaram os acontecimentos de Janeiro de 1973? Dois anos depois do assassínio, o jornalista Bruno Crimi assinou, nas colunas da revista Jeune Afrique, um dos artigos mais completos (nessa altura) sobre o caso. Bruno Crimi diz ter conseguido ter acesso, depois da Revolução dos Cravos de Abril de 1974, “a documentos guardados zelosamente nos arquivos da PIDE-DGS, na rua António Maria Cardoso, na capital”. Descreve com rigor, citando nomes e datas, o papel desempenhado pela polícia política portuguesa na morte de Cabral. O seu relato, que a RFI pôde confirmar tendo acesso a novas fontes, avança com dados precisos que merecem ser resumidos.Segundo Bruno Crimi, o destino de Cabral estava traçado no início de 1972. O primeiro-ministro português, Marcelo Caetano, precisava de um impulso para contra-balançar as vitórias dos independentistas nas colónias portuguesas em África. Marcelo Caetado recorre a determinados serviços para o efeito. Um homem, explica Bruno Crimi, ocupa o centro das atenções: Barbieri Cardoso, que depois de ter sido vice-director da PIDE se tornou, em meados dos anos 60, o chefe dos serviços de informação dos "territórios ultramarinos". Foi ele quem organizou o rapto e depois o assassínio do general Humberto Delgado, opositor ao regime de Salazar. O caso Cabral foi-lhe ...

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