• 50 anos da independência da Guiné-Bissau: a morte de Cabral e a conquista da liberdade

  • 2023/09/22
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50 anos da independência da Guiné-Bissau: a morte de Cabral e a conquista da liberdade

  • サマリー

  • A Guiné-Bissau comemora no próximo dia 24 de Setembro os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propõe desde esta segunda-feira e até domingo uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Hoje, no nono episódio desta série, debruçamo-nos sobre a forma como foram vividas, com poucos meses de intervalo, a morte de Amílcar Cabral e a independência da Guiné-Bissau. Depois de várias tentativas falhadas, na noite de 20 de Janeiro de 1973, Amílcar Cabral foi morto à porta da sua casa em Conacri por elementos pertencentes ao seu partido. Ao anunciar no dia seguinte o seu assassinato, o Presidente da Guiné Conacri, Sékou Touré, apontou um dedo acusador ao regime colonialista português.Ainda hoje, as circunstâncias exactas que resultaram na morte de Cabral geram debate entre os historiadores. O certo é que este assassinato causou uma onda de choque e de sideração. Francisca Pereira, antiga professora da escola piloto, recorda-se. "Nós tínhamos mesmo que estar acomodados, que estar mesmo decididos para dar continuidade à obra de Amílcar Cabral, porque eu lembro-me bem. Quando nos encontramos com Amílcar Cabral em Moscovo, pedi audiência com Amílcar Cabral (...). Amílcar estava a explicar-me o que estava a acontecer em Conacri, indisciplina. Quando respondi a Amílcar, eu lembro-me, pus-me a chorar. Para me acalmar, ele disse 'se matarem o Amílcar, vai aparecer mais Amílcares", conta Francisca Pereira.Agnelo Regala, antigo redactor da Rádio Libertação fala de um momento de muita consternação mas também de determinação. "Esse assassinato teve um impacto enorme. Houve um período de quebra moral da parte dos combatentes, porque ninguém esperava que isto acontecesse, embora no seu último discurso, Amílcar Cabral tivesse deixado claro que haveria sempre essa hipótese, mas deixando claro também que nem a sua morte provocaria a paragem da luta de libertação nacional", relata.Aquando da morte de Amílcar Cabral, o general e antigo combatente Fodé Cassama encontrava-se na União Soviética, na academia militar. "A morte de Cabral nos surpreendeu. Na altura estava na antiga União Soviética, num centro de preparação militar. Depois das aulas, regressamos para o almoço. Depois do almoço, os russos nos informaram de que o Amílcar Cabral tinha sido assassinado. Estávamos muito tristes, outros estavam a chorar, mas os russos disseram-nos que o revolucionário não se chora com lágrimas mas com acções", recorda o militar.Esta situação gerou um momento de incerteza quanto ao futuro, um vazio que todavia acabou por ser rapidamente preenchido, refere Julião Soares Sousa, historiador guineense ligado ao centro de estudos interdisciplinares da Universidade de Coimbra. "Isto gerou alguma situação de medo, de temos por aquilo que podia acontecer à luta armada de libertação nacional, mas creio que também teve o outro lado das pessoas terem ganho coragem para pôr fim ao regime colonial português. Creio que até o conflito endureceu mais até, tendo em conta as acções que foram preparadas a partir de finais de 1972 e início de 1973, as acções militares foram muito mais violentas do que antes", observa.Meses depois do assassinato de Cabral, no dia 24 de Setembro de 1973, nas matas de Madina do Boé, no leste do país, Nino Vieira, primeiro presidente da Assembleia Nacional Popular, proclamou a independência do país e a consagração da sua Constituição, o ponto culminante de um processo durante o qual os habitantes das zonas libertadas tinham elegido os seus representantes no ano anterior.O general Fodé Cassama estava lá nesse dia histórico. "Eu participei. Fui um dos elementos da cobertura antiaérea do evento (...). Nós chegamos no sítio no dia 22 (de Setembro), preparamos os sítios, montamos a defesa antiaérea da zona; no dia 23, os deputados fizeram a abertura da sessão e, no dia 24, proclamaram o Estado. Nós ficamos no sítio até ao regresso de todos os elementos, de todos os deputados. Infelizmente, neste momento, dos deputados que proclamaram a independência, só estão de vida 11 pessoas", revela.Iancuba N'Djai, político e antigo aluno da escola-piloto, então a estudar na URSS, acompanhou a cerimónia de proclamação da independência pela televisão. "A gente ficou satisfeitíssima. Afinal Cabral tinha razão, mas todos sentíamos pena. Sentíamos muita pena por Cabral não assistir a este acto histórico" recorda o político que diz ter ficado convencido de que "ele estava lá, a sua alma estava lá".Também para Agnelo Regala, este foi um dia de esperança. "Foi um dia extremamente importante, marcante, com os combatentes reunidos porque houve a constituição da Assembleia Nacional Popular, deixando claro que, efectivamente, durante a guerra de libertação não foi só a guerra pela libertação do país, não foi só a componente armada, mas ...
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あらすじ・解説

A Guiné-Bissau comemora no próximo dia 24 de Setembro os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propõe desde esta segunda-feira e até domingo uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Hoje, no nono episódio desta série, debruçamo-nos sobre a forma como foram vividas, com poucos meses de intervalo, a morte de Amílcar Cabral e a independência da Guiné-Bissau. Depois de várias tentativas falhadas, na noite de 20 de Janeiro de 1973, Amílcar Cabral foi morto à porta da sua casa em Conacri por elementos pertencentes ao seu partido. Ao anunciar no dia seguinte o seu assassinato, o Presidente da Guiné Conacri, Sékou Touré, apontou um dedo acusador ao regime colonialista português.Ainda hoje, as circunstâncias exactas que resultaram na morte de Cabral geram debate entre os historiadores. O certo é que este assassinato causou uma onda de choque e de sideração. Francisca Pereira, antiga professora da escola piloto, recorda-se. "Nós tínhamos mesmo que estar acomodados, que estar mesmo decididos para dar continuidade à obra de Amílcar Cabral, porque eu lembro-me bem. Quando nos encontramos com Amílcar Cabral em Moscovo, pedi audiência com Amílcar Cabral (...). Amílcar estava a explicar-me o que estava a acontecer em Conacri, indisciplina. Quando respondi a Amílcar, eu lembro-me, pus-me a chorar. Para me acalmar, ele disse 'se matarem o Amílcar, vai aparecer mais Amílcares", conta Francisca Pereira.Agnelo Regala, antigo redactor da Rádio Libertação fala de um momento de muita consternação mas também de determinação. "Esse assassinato teve um impacto enorme. Houve um período de quebra moral da parte dos combatentes, porque ninguém esperava que isto acontecesse, embora no seu último discurso, Amílcar Cabral tivesse deixado claro que haveria sempre essa hipótese, mas deixando claro também que nem a sua morte provocaria a paragem da luta de libertação nacional", relata.Aquando da morte de Amílcar Cabral, o general e antigo combatente Fodé Cassama encontrava-se na União Soviética, na academia militar. "A morte de Cabral nos surpreendeu. Na altura estava na antiga União Soviética, num centro de preparação militar. Depois das aulas, regressamos para o almoço. Depois do almoço, os russos nos informaram de que o Amílcar Cabral tinha sido assassinado. Estávamos muito tristes, outros estavam a chorar, mas os russos disseram-nos que o revolucionário não se chora com lágrimas mas com acções", recorda o militar.Esta situação gerou um momento de incerteza quanto ao futuro, um vazio que todavia acabou por ser rapidamente preenchido, refere Julião Soares Sousa, historiador guineense ligado ao centro de estudos interdisciplinares da Universidade de Coimbra. "Isto gerou alguma situação de medo, de temos por aquilo que podia acontecer à luta armada de libertação nacional, mas creio que também teve o outro lado das pessoas terem ganho coragem para pôr fim ao regime colonial português. Creio que até o conflito endureceu mais até, tendo em conta as acções que foram preparadas a partir de finais de 1972 e início de 1973, as acções militares foram muito mais violentas do que antes", observa.Meses depois do assassinato de Cabral, no dia 24 de Setembro de 1973, nas matas de Madina do Boé, no leste do país, Nino Vieira, primeiro presidente da Assembleia Nacional Popular, proclamou a independência do país e a consagração da sua Constituição, o ponto culminante de um processo durante o qual os habitantes das zonas libertadas tinham elegido os seus representantes no ano anterior.O general Fodé Cassama estava lá nesse dia histórico. "Eu participei. Fui um dos elementos da cobertura antiaérea do evento (...). Nós chegamos no sítio no dia 22 (de Setembro), preparamos os sítios, montamos a defesa antiaérea da zona; no dia 23, os deputados fizeram a abertura da sessão e, no dia 24, proclamaram o Estado. Nós ficamos no sítio até ao regresso de todos os elementos, de todos os deputados. Infelizmente, neste momento, dos deputados que proclamaram a independência, só estão de vida 11 pessoas", revela.Iancuba N'Djai, político e antigo aluno da escola-piloto, então a estudar na URSS, acompanhou a cerimónia de proclamação da independência pela televisão. "A gente ficou satisfeitíssima. Afinal Cabral tinha razão, mas todos sentíamos pena. Sentíamos muita pena por Cabral não assistir a este acto histórico" recorda o político que diz ter ficado convencido de que "ele estava lá, a sua alma estava lá".Também para Agnelo Regala, este foi um dia de esperança. "Foi um dia extremamente importante, marcante, com os combatentes reunidos porque houve a constituição da Assembleia Nacional Popular, deixando claro que, efectivamente, durante a guerra de libertação não foi só a guerra pela libertação do país, não foi só a componente armada, mas ...

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