• 50 anos da independência da Guiné-Bissau: as gerações seguintes e o legado da luta

  • 2023/09/24
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50 anos da independência da Guiné-Bissau: as gerações seguintes e o legado da luta

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  • A Guiné-Bissau comemora este domingo os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propôs ao longo da semana uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Hoje, no 14° capítulo desta série, focamos a nossa atenção sobre a geração que veio a seguir à independência e o olhar que tem sobre o seu país e o legado da luta de libertação. Ao saudarem o combate conduzido pelas gerações anteriores para conquistar a independência do seu país, o activista Sumaila Djalo, o antropólogo e dirigente da ONG Tiniguena, Miguel de Barros, assim como a cantora e jornalista guineense Karyna Gomes, não deixam de questionar os efeitos dos sobressaltos destes 50 anos sobre o desenvolvimento da Guiné-Bissau. O olhar também é crítico em relação à forma como Portugal se posiciona ainda hoje relativamente à Guiné-Bissau e às restantes antigas colónias. Emerge a partir destas constatações a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento e de relacionamento com o mundo.Olhares críticos sobre a situação vicenciada na Guiné-BissauEntrevistada em Portugal onde reside, Karyna Gomes que conviveu de forma íntima com o legado da libertação por pertencer à família de Amílcar Cabral, diz ter um misto de sentimentos relativamente ao caminho seguido pelo seu país depois da independência."Cresci com orgulho de ser sobrinha-neta de Amílcar Cabral que fui descobrindo ao longo da minha história; fui descobrindo primeiro pelas histórias que me contavam em casa, depois na escola, na formação militante e, mais tarde, como profissional a trabalhar na Guiné-Bissau, conhecendo o interior e descobrir que realmente Cabral não podia não se ter apaixonado pela causa do povo guineense e não ter feito a luta que fez (...). Cresci com isso, estou a viver com isso, mas por outro lado, a dor, a frustração de uma luta tão gloriosa, um processo tão glorioso ter sido abortado a uma determinada altura".Também a residir actualmente em Portugal onde prossegue os estudos, o activista Sumaila Djalo também observa a história do seu país com algum cepticismo. Após recordar os principais episódios de violência que houve no país, com golpes de estado, perseguições e assassinatos, o activista refere que a construção da Guiné-Bissau resultou de "processos com muitas tensões, com muitas diferenças que ainda hoje marcam o percurso da Guiné-Bissau. Mas são tensões que embora não sejam acontecimentos desejados no percurso do nosso país, são em todo o caso normais no percurso de uma Nação que surgiu de uma luta que surgiu com muitas desavenças".Embora Sumaila Djalo considere que não é necessário haver consenso em tudo e que até é um indício de uma democracia saudável, ele também alerta para os riscos inerentes à radicalização de posições. "As diferenças não se devem radicalizar ao ponto de não nos podermos entender, de não podermos dialogar e estabelecermos prioridades para em conjunto construirmos um país em que vivamos de forma pacífica", sublinha Sumaila Djalo para quem interesses particulares se sobrepuseram, a dada altura, ao interesse colectivo da população do seu país ."Muitas vezes, essas diferenças radicalizadas que impedem a priorização de um projecto de construção do país, surgem de interesses localizados, de interesses que nada têm a ver com a prioridade da construção da Guiné-Bissau. Esses interesses localizados, esses interesses que não são partilhados, esses interesses que impedem o avanço do nosso país têm que ser combatidos".Igualmente crítico sobre a evolução do país nestes 50 anos que acabam de passar, Miguel de Barros, dirigente da ONG Tiniguena, evoca um sentimento de orgulho pelo processo de emancipação "com muita dignidade" da Nação guineense e ao mesmo tempo um sentimento de frustração pelo fracasso dos modelos de desenvolvimento que se tentaram aplicar. "Há um sentimento de desalento, há um sentimento de sonho não cumprido, porque o país tinha tudo para ser um país próspero, para ser um país de bem-estar, para ser um país de dignidade e o país não consegue alcançar essas metas exactamente à conta daquilo que foram as derrapagens ideológicas e com consequências ao nível da governação que colocou a Guiné-Bissau numa situação de fragilidade do Estado e completamente vulnerável a situações, como por exemplo, de crime organizado, o narcotráfico e, ao mesmo tempo, colocando a Guiné-Bissau numa situação de dependência externa", aponta o activista social.A nova geração também tem um olhar crítico sobre Portugal50 anos depois da independência da Guiné-Bissau, resta também muito caminho a percorrer do lado de Portugal. Do outro lado do oceano, a antiga potência colonial continua a alimentar mitos sobre a sua História em África do ponto de vista de Karyna Gomes. "A forma paternalista de cooperação, a forma como se ...
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あらすじ・解説

A Guiné-Bissau comemora este domingo os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propôs ao longo da semana uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Hoje, no 14° capítulo desta série, focamos a nossa atenção sobre a geração que veio a seguir à independência e o olhar que tem sobre o seu país e o legado da luta de libertação. Ao saudarem o combate conduzido pelas gerações anteriores para conquistar a independência do seu país, o activista Sumaila Djalo, o antropólogo e dirigente da ONG Tiniguena, Miguel de Barros, assim como a cantora e jornalista guineense Karyna Gomes, não deixam de questionar os efeitos dos sobressaltos destes 50 anos sobre o desenvolvimento da Guiné-Bissau. O olhar também é crítico em relação à forma como Portugal se posiciona ainda hoje relativamente à Guiné-Bissau e às restantes antigas colónias. Emerge a partir destas constatações a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento e de relacionamento com o mundo.Olhares críticos sobre a situação vicenciada na Guiné-BissauEntrevistada em Portugal onde reside, Karyna Gomes que conviveu de forma íntima com o legado da libertação por pertencer à família de Amílcar Cabral, diz ter um misto de sentimentos relativamente ao caminho seguido pelo seu país depois da independência."Cresci com orgulho de ser sobrinha-neta de Amílcar Cabral que fui descobrindo ao longo da minha história; fui descobrindo primeiro pelas histórias que me contavam em casa, depois na escola, na formação militante e, mais tarde, como profissional a trabalhar na Guiné-Bissau, conhecendo o interior e descobrir que realmente Cabral não podia não se ter apaixonado pela causa do povo guineense e não ter feito a luta que fez (...). Cresci com isso, estou a viver com isso, mas por outro lado, a dor, a frustração de uma luta tão gloriosa, um processo tão glorioso ter sido abortado a uma determinada altura".Também a residir actualmente em Portugal onde prossegue os estudos, o activista Sumaila Djalo também observa a história do seu país com algum cepticismo. Após recordar os principais episódios de violência que houve no país, com golpes de estado, perseguições e assassinatos, o activista refere que a construção da Guiné-Bissau resultou de "processos com muitas tensões, com muitas diferenças que ainda hoje marcam o percurso da Guiné-Bissau. Mas são tensões que embora não sejam acontecimentos desejados no percurso do nosso país, são em todo o caso normais no percurso de uma Nação que surgiu de uma luta que surgiu com muitas desavenças".Embora Sumaila Djalo considere que não é necessário haver consenso em tudo e que até é um indício de uma democracia saudável, ele também alerta para os riscos inerentes à radicalização de posições. "As diferenças não se devem radicalizar ao ponto de não nos podermos entender, de não podermos dialogar e estabelecermos prioridades para em conjunto construirmos um país em que vivamos de forma pacífica", sublinha Sumaila Djalo para quem interesses particulares se sobrepuseram, a dada altura, ao interesse colectivo da população do seu país ."Muitas vezes, essas diferenças radicalizadas que impedem a priorização de um projecto de construção do país, surgem de interesses localizados, de interesses que nada têm a ver com a prioridade da construção da Guiné-Bissau. Esses interesses localizados, esses interesses que não são partilhados, esses interesses que impedem o avanço do nosso país têm que ser combatidos".Igualmente crítico sobre a evolução do país nestes 50 anos que acabam de passar, Miguel de Barros, dirigente da ONG Tiniguena, evoca um sentimento de orgulho pelo processo de emancipação "com muita dignidade" da Nação guineense e ao mesmo tempo um sentimento de frustração pelo fracasso dos modelos de desenvolvimento que se tentaram aplicar. "Há um sentimento de desalento, há um sentimento de sonho não cumprido, porque o país tinha tudo para ser um país próspero, para ser um país de bem-estar, para ser um país de dignidade e o país não consegue alcançar essas metas exactamente à conta daquilo que foram as derrapagens ideológicas e com consequências ao nível da governação que colocou a Guiné-Bissau numa situação de fragilidade do Estado e completamente vulnerável a situações, como por exemplo, de crime organizado, o narcotráfico e, ao mesmo tempo, colocando a Guiné-Bissau numa situação de dependência externa", aponta o activista social.A nova geração também tem um olhar crítico sobre Portugal50 anos depois da independência da Guiné-Bissau, resta também muito caminho a percorrer do lado de Portugal. Do outro lado do oceano, a antiga potência colonial continua a alimentar mitos sobre a sua História em África do ponto de vista de Karyna Gomes. "A forma paternalista de cooperação, a forma como se ...

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