Nos seus longos anos de estudos com povos africanos e com as civilizações americanas, como os povos maias, incas, astecas e da região amazônica, o Professor Ubiratan D’Ambrósio constatou que esses povos trabalhavam os conceitos matemáticos como um empreendimento humano, visando resolver problemas da vida, e isso envolvia tudo: história, espiritualidade, ciências da natureza, a geografia, ou seja, um pensar religado, transdisciplinar.
Com as suas pesquisas, o professor nos convidou a unir os saberes. Ele criou a metáfora “gaiolas epistemológicas” para dizer que quando cada disciplina é engaiolada, só é possível entender a linguagem da disciplina, como “Biologuês”, o “Matematiquês”, o “Fisiquês”, e sustentava a importância de colocar todas as ideias juntas.
As chamadas ciências exatas não podem ser separadas dos processos humanos, sociais e culturais, e precisam ser vistas numa perspectiva transdisciplinar e transcultural.
Quando compartimentamos o pensamento e dividimos os saberes, estamos pensando e discutindo dentro de um espaço restrito, dentro de uma mesma cultura engaiolada. Para uma cidadania planetária é necessário juntar os saberes numa “grade curricular” que não “engradeia”, a ser aplicada em todos os níveis do conhecimento. Isso não quer dizer o fim das disciplinas, mas é um convite a sairmos das gaiolas para ampliar o conhecimento, religar os fenômenos, ter um olhar ampliado, se inspirar, criar espaço para a imaginação e a fantasia.
O nosso podcast de hoje trata do tema Educação, Separação dos Saberes e Transdisciplinaridade.
A BNCC traz as bases comuns para a (re)discussão do currículo nas escolas e entendemos que para a educação do presente e do futuro os nossos currículos precisam se transformar, cada vez mais, em currículos de temas, de problemas, de projetos, com trabalhos interdisciplinares. Elegemos um tema e todas as áreas trabalham aquele tema específico, gerando conhecimentos transdisciplinares.
Quando valorizamos projetos interdisciplinares desenvolvemos nos alunos a aprender os processos complexos do pensar, pois juntamos o que é separado; possibilitamos as experimentações e as pesquisas; eles aprendem a selecionar, criticar, comparar, sintetizar, avaliar. Despertam para o aprender. São enormes os desafios da educação e entre os principais está o despertar no estudante a fome do saber, como diria Rubem Alves. Para fazer frente ao desinteresse das aulas passivas, cada vez mais é preciso trabalhar com projetos e metodologias ativas e participativas, para despertar nos estudantes a inquietação, a curiosidade, o estranhamento, a fome do saber.
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