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サマリー
あらすじ・解説
Um relatório do coletivo Le revers de la médaille (O outro lado da medalha, em tradução livre) denuncia uma “limpeza social” das cidades francesas. Uma centena associações que trabalham com grupos vulneráveis alertam para o distanciamento e a invisibilidade das pessoas marginalizadas, especialmente na Île de France, região onde fica Paris, e onde acontecerá a maioria dos eventos.
Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris
Despejos, desmantelamento de acampamentos de rua, pressão policial. Em 138 operações realizadas ao longo de um ano, as autoridades removeram mais de 12 mil sem-teto, um aumento de 40% em dois anos. Entre eles, há três vezes mais menores de idade. Ao mesmo tempo, 3.000 leitos foram suprimidos em abrigos que acolhem essas populações.
A maior parte das pessoas retiradas são migrantes e foram afastadas da capital, um movimento que tem se acelerado com a proximidade da abertura dos Jogos Paris 2024, segundo as entidades que denunciam uma "estratégia de limpeza social” antes do evento. "Nós que atuamos no terreno há mais de dez anos junto a essas pessoas nunca vimos uma repressão como esta. Temos certeza que é o impacto dos Jogos Olímpicos", afirma Paul Rey-Fauvinet, voluntário da associação AIDES, que trabalha com usuários de crack em Paris.
"Constatamos um aumento da presença policial nos locais de consumo de crack. A empresa de transportes RATP retirou bancos das estações de metrô onde essas pessoas podiam se sentar e agora elas ficam perambulando sem rumo. A repressão prevê caçar, empurrar essas pessoas para lugares cada vez mais afastados, onde elas ficam ainda mais expostas à violência", lamenta.
Aurélia Huot é advogada na Ordem dos Advogados Paris Solidarité. Ela relata a situação de nigerianas que atuam como profissionais do sexo no Bois de Vincennes, um bosque na região leste de Paris. Elas são obrigadas a correr para se esconder entre os arbustos para evitar as batidas policiais. "Em maio e junho de 2023, a polícia tentava criar laços com essas pessoas, consideradas vítimas. Com a mudança, os controles administrativos acontecem de maneira violenta. Elas são presas em roupas íntimas. São práticas que criam uma sensação de medo. Como consequência, elas vêm cada vez mais tarde da noite, até que a gente perca o contato com elas", observa.
Recentemente, cerca de cem jovens migrantes também foram retirados pela polícia francesa de um acampamento às margens do rio Sena.
O coletivo denuncia a maneira como essas operações são realizadas, com o envio de forças policiais e não de assistentes sociais. Mas a principal reclamação diz respeito à falta de opções dadas às pessoas afetadas pela precariedade. Sem uma solução de moradia, muitas acabam voltando para as ruas da capital.
Segundo Paul Alauzy, coordenador de vigilância sanitária da ONG Médicos do Mundo e porta-voz do coletivo, “seria necessária a criação de 20 mil vagas para abrigar os sem-teto, das quais 7.000 na região parisiense. Esse é o foco do nosso coletivo. Há pessoas nas ruas, sabemos que os espaços públicos serão muito mais ocupados durante os Jogos Olímpicos e estas pessoas não poderão ficar. Então, é preciso encontrar soluções dignas e perenes”, diz.
Esta não é a primeira vez que operações desse tipo são denunciadas às vésperas de Jogos Olímpicos, seja com a remoção de sem-teto ou de populações instaladas de forma considerada indevida nos arredores de locais que acolhem grandes eventos esportivos.
Em 2013, a Anistia Internacional alertou em um relatório sobre os direitos humanos no mundo a situação de milhares de pessoas vítimas de remoção forçada por causa dos preparativos da Copa do Mundo de 2014 no Brasil e dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro.