エピソード

  • Guiné-Bissau assinala 50 anos da independência: recordar o início da luta armada
    2023/11/16
    A Guiné-Bissau comemorou a 24 de Setembro os 50 anos da sua independência, efeméride assinalada de forma solene a 16 de Novembro. Neste quadro, a RFI volta a difundir uma reportagem de uma série realizada em Setembro passado acerca deste evento, entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Tratava-se de uma reportagem efectuada sobre o início da luta armada.Nos finais dos anos 50 e início da década de 60, numa altura em que tanto os vizinhos Senegal como a Guiné Conacri tinham acabado de alcançar as suas respectivas independências, tornava-se cada mais evidente para os sectores independentistas da Guiné-Bissau que o país deveria igualmente libertar-se da tutela do colonialismo português.Em 1961, um movimento concorrente do PAIGC, o MLG -Movimento de Libertação da Guiné- efectua actos de sabotagem no norte do país, mas o envio de reforços militares portugueses inibe veleidades de novos ataques. Cenários já vistos que Cabral pretende evitar segundo Julião Soares Sousa, historiador guineense ligado ao centro de estudos interdisciplinares da Universidade de Coimbra. "Há uma data que é o início da luta feita pelo MLG que faz ataques nos norte da Guiné em Julho de 61 e que provocou até uma certa preocupação a Amílcar Cabral porque ele pensou que se o MLG ocupasse o norte da Guiné, nós íamos ter uma situação muito idêntica àquilo que estava a acontecer em Angola. Naquele país, com a UPA-FNLA a ocupar parte do norte de Angola, o MPLA teve muitas dificuldades em infiltrar os seus homens para o interior de Angola", nota o estudioso.Será preciso esperar 1963 para que, após uma minuciosa preparação, com a entrega de armas e formação de combatentes, o PAIGC lance um primeiro ataque contra o quartel de Tite, no sul da Guiné-Bissau, dando início a uma guerra que só terminaria formalmente com o reconhecimento da independência do país por Portugal em 1974. Iancuba Ndjai, político guineense, antigo aluno da escola piloto de Cabral e antigo membro da aviação das forças independentistas, fala dos bastidores dessa preparação à guerra."Amílcar Cabral foi obrigado a pensar em termos militares. Os primeiros escritos de Amílcar Cabral sobre a problemática militar foi em 1962, quando decidiu criar dois grupos, uma acção política e outra militar. Daí surgiu a guerrilha, a guerrilha como uma componente da luta armada e que estava circunscrita a localidades concretas. Mas em 1964, reúne-se o congresso do PAIGC e Amílcar Cabral cria as FARP, Forças Armadas Revolucionárias do Povo, que seriam o principal instrumento material da conquista da independência nacional", sublinha o responsável político.O recrutamento de forças faz-se em todo o lado, no campo, na cidade, fora do país. Todos têm um familiar preso ou envolvido na luta. Foi o caso do escritor guineense Ernesto Dabo que se envolveu nesse combate em Portugal na clandestinidade, no início dos anos 70. "A situação em que estávamos a viver era inumana, injusta e nenhum indivíduo que crescesse, que evoluísse do ponto de vista cultural podia suporta uma situação daquelas com indiferença. Isto foi determinante porque eu tive a sorte de viver em Portugal com gente que não me fez sentir discriminado como era regra noutros países. Vivi normalmente com muita gente (...), de maneira que isso, contrariamente àquilo que poderia ter acontecido, eu me alienar e pensar que era de lá e que tinha outros privilégios e que já não era da Guiné-Bissau, ajudou-me a perceber que a qualidade de vida que eu via lá, a atitude de respeito de mútuo que eu vivia lá, eu pensei que tinha que ter isso também no meu país", conta o autor. A necessidade imperiosa de liberdade e de perspectivas de futuro também levaram José Turé, antigo militar e antigo representante do PAIGC no estrangeiro, a combater as forças portuguesas. "Entrei na luta de libertação por haver tanto movimento africano nessa altura. Todos os jovens tinham a aspiração de se libertar. Eu pensava estudar. Infelizmente, não consegui e fiz os estudos mais tarde. Tínhamos muitas limitações. Primeiro, tínhamos dificuldade em integrar-nos na sociedade portuguesa, segundo, não podíamos ir mais longe nos estudos. Então, um dia consegui falar com uns colegas. Eles disseram 'se pretende ir lá, não fazia mal'. Eu ofereci-me voluntariamente" conta o antigo combatente.O general Fodé Cassamá, entrou também na guerra muito jovem, aos 17 anos. "Precisávamos de ser livres, estar fora do colonialismo. O papel da juventude era muito necessário. Foi o que me motivou a entrar na luta de libertação, como cidadão deste país", refere o militar que, ao recordar o ambiente que se vivia na frente luta, conta que "se vivia em camaradas, segundo a situação que se apresentava" e que "era normal porque precisavam da independência".Podem ver e ouvir na íntegra da entrevista do escritor Ernesto ...
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  • 50 anos da independência da Guiné-Bissau: as gerações seguintes e o legado da luta
    2023/09/24
    A Guiné-Bissau comemora este domingo os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propôs ao longo da semana uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Hoje, no 14° capítulo desta série, focamos a nossa atenção sobre a geração que veio a seguir à independência e o olhar que tem sobre o seu país e o legado da luta de libertação. Ao saudarem o combate conduzido pelas gerações anteriores para conquistar a independência do seu país, o activista Sumaila Djalo, o antropólogo e dirigente da ONG Tiniguena, Miguel de Barros, assim como a cantora e jornalista guineense Karyna Gomes, não deixam de questionar os efeitos dos sobressaltos destes 50 anos sobre o desenvolvimento da Guiné-Bissau. O olhar também é crítico em relação à forma como Portugal se posiciona ainda hoje relativamente à Guiné-Bissau e às restantes antigas colónias. Emerge a partir destas constatações a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento e de relacionamento com o mundo.Olhares críticos sobre a situação vicenciada na Guiné-BissauEntrevistada em Portugal onde reside, Karyna Gomes que conviveu de forma íntima com o legado da libertação por pertencer à família de Amílcar Cabral, diz ter um misto de sentimentos relativamente ao caminho seguido pelo seu país depois da independência."Cresci com orgulho de ser sobrinha-neta de Amílcar Cabral que fui descobrindo ao longo da minha história; fui descobrindo primeiro pelas histórias que me contavam em casa, depois na escola, na formação militante e, mais tarde, como profissional a trabalhar na Guiné-Bissau, conhecendo o interior e descobrir que realmente Cabral não podia não se ter apaixonado pela causa do povo guineense e não ter feito a luta que fez (...). Cresci com isso, estou a viver com isso, mas por outro lado, a dor, a frustração de uma luta tão gloriosa, um processo tão glorioso ter sido abortado a uma determinada altura".Também a residir actualmente em Portugal onde prossegue os estudos, o activista Sumaila Djalo também observa a história do seu país com algum cepticismo. Após recordar os principais episódios de violência que houve no país, com golpes de estado, perseguições e assassinatos, o activista refere que a construção da Guiné-Bissau resultou de "processos com muitas tensões, com muitas diferenças que ainda hoje marcam o percurso da Guiné-Bissau. Mas são tensões que embora não sejam acontecimentos desejados no percurso do nosso país, são em todo o caso normais no percurso de uma Nação que surgiu de uma luta que surgiu com muitas desavenças".Embora Sumaila Djalo considere que não é necessário haver consenso em tudo e que até é um indício de uma democracia saudável, ele também alerta para os riscos inerentes à radicalização de posições. "As diferenças não se devem radicalizar ao ponto de não nos podermos entender, de não podermos dialogar e estabelecermos prioridades para em conjunto construirmos um país em que vivamos de forma pacífica", sublinha Sumaila Djalo para quem interesses particulares se sobrepuseram, a dada altura, ao interesse colectivo da população do seu país ."Muitas vezes, essas diferenças radicalizadas que impedem a priorização de um projecto de construção do país, surgem de interesses localizados, de interesses que nada têm a ver com a prioridade da construção da Guiné-Bissau. Esses interesses localizados, esses interesses que não são partilhados, esses interesses que impedem o avanço do nosso país têm que ser combatidos".Igualmente crítico sobre a evolução do país nestes 50 anos que acabam de passar, Miguel de Barros, dirigente da ONG Tiniguena, evoca um sentimento de orgulho pelo processo de emancipação "com muita dignidade" da Nação guineense e ao mesmo tempo um sentimento de frustração pelo fracasso dos modelos de desenvolvimento que se tentaram aplicar. "Há um sentimento de desalento, há um sentimento de sonho não cumprido, porque o país tinha tudo para ser um país próspero, para ser um país de bem-estar, para ser um país de dignidade e o país não consegue alcançar essas metas exactamente à conta daquilo que foram as derrapagens ideológicas e com consequências ao nível da governação que colocou a Guiné-Bissau numa situação de fragilidade do Estado e completamente vulnerável a situações, como por exemplo, de crime organizado, o narcotráfico e, ao mesmo tempo, colocando a Guiné-Bissau numa situação de dependência externa", aponta o activista social.A nova geração também tem um olhar crítico sobre Portugal50 anos depois da independência da Guiné-Bissau, resta também muito caminho a percorrer do lado de Portugal. Do outro lado do oceano, a antiga potência colonial continua a alimentar mitos sobre a sua História em África do ponto de vista de Karyna Gomes. "A forma paternalista de cooperação, a forma como se ...
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  • 50 anos da independência da Guiné-Bissau: os sonhos por cumprir da geração da luta
    2023/09/23
    A Guiné-Bissau comemora este domingo os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propôs ao longo da semana uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Hoje, no 13° capítulo desta série, evocamos o balanço destes 50 anos com a geração que participou ou foi testemunha directa da libertação do país. Embora considerem que a luta valeu a pena, uma vez que resultou na independência do país e na possibilidade de os seus concidadãos decidirem o rumo que querem colectivamente tomar, os protagonistas da guerra de libertação não deixam de dar conta de algumas decepções.Francisca Pereira, antiga diplomata e professora na escola-piloto de Amílcar Cabral, considera que não se cumpriu completamente o sonho que norteou a sua luta. "Não chegou até agora a suceder o sonho de Amílcar Cabral, porque o Amílcar para nos sensibilizar, sobretudo as jovens gerações, sempre nos dizia que temos que assegurar e nos engajar para que o país se liberte do jugo colonial (...). Temos tudo o que pode dar do bom e do melhor. Amílcar sempre dizia que 'o nosso país é rico'. Tem chuva e o nosso mar está cheio de peixe. Na agricultura, não precisamos de importar. Nós exportávamos arroz para Moçambique e tínhamos grande possibilidade de criação de animais e não só. Tínhamos já descoberto os minérios (...) Confundimos o amor, o desenvolvimento do país, com as nossas posições políticas. Muda a política, muda até a intervenção" lamenta a antiga combatente para quem se deveria "dar continuidade ao bem e ao progresso do povo".Também na óptica do jurista e universitário guineense Fodé Mané estes 50 anos não têm sido um êxito, mas ele não deixa de observar que tem havido uma maior tomada de consciência da população guineense."Não está a ser um êxito nem está a correr como estava previsto (...). Houve retrocessos até porque os primeiros 7 anos depois da proclamação da independência, sabe-se que houve alguma implementação de alguns ideais. Depois, houve interrupção daquele ideal da Guiné e de Cabo Verde porque mexia com determinadas sensibilidades. Cada país começou a caminhar isoladamente a partir de 1980. De 1980 a 1986 foi uma época em que se viu que acabou o período de graça. Aquela generosidade da comunidade internacional com um país recém-criado acabou depois de 1980. Começou-se a conhecer quais são os esforços, qual é o fardo de procurarmos ser autónomos" analisa Fodé Mané que por outro lado dá conta de uma necessidade de reconciliação interna neste país moldado pela luta e pela violência. "Não houve um processo de catarse, de tentar curar aquele sofrimento para promover um desenvolvimento mais inclusivo", considera o estudioso."Nestes 50 anos, esta espiral de violência fez com que todos nós nos tornássemos vítimas e carrascos e responsáveis por esta situação. Isto constituiu um certo entrave ao desenvolvimento. Mas o tempo tem jogado (a nosso favor). A maturidade, a consciência do povo tem estado a subir. Nós vimos que há um ano tivemos um regime que tinha tudo. Mas foi para as eleições que ele organizou e o resultado foi diferente. O povo exprimiu-se contra o próprio regime. Isto mostra uma certa evolução da consciência da cidadania, da consciência cívica. Não se apela agora à violência como forma de resolver os problemas", observa o jurista e activista.A violência que marcou a história destes 50 anos também leva o antigo combatente da guerra de libertação, o general Fodé Cassama, a apelar para a necessidade de sarar as feridas do passado e privilegiar o diálogo para o país retomar a via do progresso. "Talvez pode não ser na altura da nossa vida, mas o país vai arrancar. Mas é preciso que cada um meta na mente que o país é nosso, pertence a nós todos. Não é necessário pensar que 'sem mim, o país não pode andar'. Nós todos devemos dar as mãos e esquecer o passado porque o tempo que perdemos é muito. Perdemos um longo tempo que não permitiu o desenvolvimento do país.", considera o antigo militar.Ao fazer igualmente um apelo à tolerância, o escritor guineense Ernesto Dabo faz um balanço menos sombrio do resultado da luta de libertação, preferindo destacar que a independência da Guiné-Bissau acabou por ser o catalizador, alguns meses depois, da revolução do 25 de Abril e também da emancipação dos povos em termos de direito internacional."Não me parece que o 25 de Abril pudesse surgir se não houvesse revoltas nas colónias no período em que surgiram. Também não me parece que a conclusão da guerra teria sido mesmo tipo se não tivesse havido o 25 de Abril. Isto é para demonstrar que havia um processo em que vários intervenientes, cada um no seu espaço, foi evoluindo até se chegar a este fim", refere o autor que também participou na luta de libertação através da acção clandestina em Portugal...
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  • 50 anos da independência da Guiné-Bissau: o balanço de Domingos Simões Pereira
    2023/09/23
    A Guiné-Bissau comemora este domingo os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propôs ao longo da semana uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Hoje, no 12° capítulo desta série, o nosso convidado é Domingos Simões Pereira, actual líder do PAIGC, partido que outrora conduziu a luta de libertação. Ao admitir que a herança da luta pode revelar-se pesada, um processo de reconciliação sendo a seu ver necessário, Domingos Simões Pereira começa por aludir à época da guerra de libertação e ao assassínio de Amílcar Cabral, momentos que se confundem com os seus primeiros anos de vida."Eu tinha 10 anos na altura e todo o ambiente envolvente, eu estava em Cacheu, eu ainda estudava na quarta classe, e de repente todo o ambiente era bastante sombrio. a própria movimentação das tropas que estavam de alerta, o comportamento do administrador local, do agente da PIDE, tudo fez-nos perceber que algo de muito grave estava a acontecer. Levou algum tempo, pelo menos foi no final do dia, que algumas pessoas que tinham acesso à Rádio Libertação e à rádio de Conacri começaram a dar-nos algumas pistas, mas era muito curioso porque quando se falava disso, o que se dizia era que a guerra estava próxima do fim. Era óbvio que todos nós nem ousávamos sonhar que um dia a guerra chegaria ao fim. De repente, essa possibilidade de ser associada ao facto de aquilo que viemos a descobrir a seguir, ao desaparecimento físico de alguém, aí ganhamos alguma ideia sobre a dimensão dessa pessoa", começa por recordar o responsável político.Questionado sobre o ambiente que se viveu depois da independência, Domingos Simões Pereira recorda o momento em que começou a caça aos agentes da PIDE. "Eu vivia num bairro onde curiosamente estavam concentrados um bom número daqueles que foram acusados, digo que foram acusados porque naquela altura muita gente foi acusada e depois veio-se a provar que não tinham essa ligação. Houve até elementos que se veio a dizer que eram do PAIGC e que, como forma de poderem fazer o seu trabalho se faziam passar por agentes da PIDE, e que foram acusados. Não conheço propriamente a sorte deles", conta Domingos Simões Pereira para quem o país "precisa de um processo de cura, de pacificação". Na sua óptica, esse processo "deveria passar por resgatar a história e tentar encontrar os elementos verdadeiros dessa história"."É preciso que todos os guineenses tenham consciência que uma luta de libertação envolve dinâmicas muito especiais. Há gente que serviu a administração colonial por força, por obrigação, não por opção. Há gente que foi para o lado do PAIGC, não pela sua consciência ideológica, mas porque estaria a fugir de outra realidade, há aqui muita coisa. Portanto, pretender no meio disso caracterizar uns de bons e outros de maus, foi realmente uma herança muito pesada", considera o também presidente da Assembleia Nacional Popular.Sobre os numerosos momentos de sobressalto e violência que o país atravessou nestas cinco décadas, o líder do partido que outrora conduziu o país para a independência, diz que continua a ter esperança no futuro."Eu subscrevo o sentimento daqueles que exigem e consideram que já podíamos ter feito mais. Há dias de frustração, há dias de alguma desolação, tudo isto existe. Mas depois, quando voltamos ao controlo do nosso ser, eu penso que é preciso compreender uma coisa: a natureza da colonização na Guiné-Bissau nunca olhou para este território como um território de desenvolvimento. Daí que, se por exemplo em Angola, a própria ideia que o colono teve do domínio de Angola fez com que desenvolvesse uma urbe e, associado a essa urbe, haviam outras condições, escolaridade, formação, aprendizagem, administração. No caso da Guiné, por aquilo que leio agora, porque as condições climatéricas não eram as melhores, porque o próprio território não era muito extenso para as culturas que poderiam ser mais interessantes, foi vista como uma colónia de exploração, mas uma exploração que também não dava grande coisa. Daí que o homem guineense foi desprovido do essencial. O essencial é a formação. Quando não se tem formação, quando não se tem a instrução que é necessária para poder construir um Estado, o que acontece é que o único modelo de Estado que os libertadores conheciam era o Estado que estavam a combater. Portanto dizer 'nós somos contra o Estado colonial era a parte mais fácil'. O Estado colonial sai, agora é preciso construir um novo Estado. Não sabemos qual. Então, cometemos muitos erros, cometemos muitas inversões de marcha sem saber exactamente qual o verdadeiro rumo a tomar", comenta o responsável político.Todavia, o líder do PAIGC opta por não emitir juízos severos sobre o passado. "Eu não posso olhar para trás, 50 anos decorridos, e achar que todos ...
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  • 50 anos da independência da Guiné-Bissau: o olhar do comandante Pedro Pires
    2023/09/23
    A Guiné-Bissau comemora este domingo os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propôs ao longo da semana uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Hoje, no 11° capítulo desta série, o nosso convidado é o antigo Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, que participou na guerra de libertação da Guiné-Bissau. Na altura da independência, Pedro Pires era Comandante da Região Balana /Quitáfine, no sudeste do país, tendo participado em Maio de 1973 na tomada do quartel de Guiledge, uma batalha considerada decisiva para o fim do colonialismo na Guiné-Bissau.Mais tarde, depois da independência, Pedro Pires será quem vai chefiar a delegação que negociou com o Governo português o reconhecimento da independência da Guiné e quem vai assinar em 1974 o Acordo de Argel, formalizando esse reconhecimento.Volvidos 50 anos, na hora dos balanços, Pedro Pires recorda o que o conduziu a envolver-se nessa luta que resultou na independência da Guiné-Bissau e mais tarde, em 1975, na de Cabo Verde.Ao contar ter entrado nesse combate "por uma questão de ideal mas também de justiça, pelo ideal da liberdade, o ideal da igualdade e o ideal do progresso, o ideal de nós sermos donos do nosso destino e podermos liderar e gerir esse destino", o antigo comandante militar confessa, por vezes, sentir saudades daquele tempo. Um tempo "que era de sacrifício, de risco, de guerra, podíamos morrer pelo caminho mas o ambiente vivido, o entusiasmo, a vontade de ganhar, tudo isso criava um convívio. Não podemos repeti-lo. Foi algo, humanamente, muito enriquecedor", revela.Evocando o assassinato a 20 de Janeiro de Amílcar Cabral, o seu antigo companheiro de luta refere que "está claro que este facto marcou-nos por toda a vida porque perguntamo-nos 'Porque é que aconteceu? Porque é que foi assim?'. Poderia ter sido de outra maneira, ou aceitar o destino, o destino comandado de fora".Questionado sobre as dissensões que poderiam existir dentro do PAIGC e que teriam contribuído, segundo alguns estudiosos, para o assassinato do líder independentista, Pedro Pires vinca que o inimigo comum era o regime colonial. "Nesta coisa, estamos sempre a fugir às nossas responsabilidades. Nós estávamos em guerra contra o regime colonial português. O nosso inimigo era o regime colonial português. Quem queria destruir-nos era o regime colonial português. Portanto, temos de ter em conta que é o principal responsável de tudo isso (...). A questão das diferenças, a questão dos conflitos pessoais, há por todo o lado. Qual é o conflito maior que está na base disso? Está claro: é o projecto da destruição do PAIGC".Neste sentido, ao enaltecer as vitórias do partido em diversas frentes, Pedro Pires cita designadamente a audiência concedida em 1970 pelo então sumo pontífice, o papa Paulo VI, aos responsáveis do PAIGC, que foi uma bofetada ao regime de Salazar, e cita igualmente a batalha de Guiledge, da qual foi um dos arquitectos. O antigo comandante militar sublinha em particular a importância desempenhada pelos mísseis terra-ar Strela fornecidos pelos russos na fase final do conflito. "Estávamos a caminho da vitória porque estávamos em vias de conseguir a arma letal que neutralizou a superioridade estratégica e tecnológica do exército colonial, obrigando-o, em vez de utilizar os aviões, a andar a pé. Essa arma permitiu uma mudança de estratégia (...). De 20 de Janeiro a 22 de Maio, são quatro meses. Faz a diferença. Em quatro meses, com os recursos que já tínhamos e que Amílcar Cabral tinha conseguido, alcançamos a grande vitória que foi o fim do colonialismo na Guiné", destaca.Sobre o dia em que foi proclamada a independência da Guiné-Bissau, no dia 24 de Setembro de 1973 em Lugajol, nas matas de Madina do Boé, no leste do país, Pedro Pires diz que para ele era "claro que não era o fim da luta, mas era uma grande vitória da luta de libertação nacional que se devia consolidar" e que "era a materialização de um compromisso com Amílcar Cabral".Quando sete anos depois se deu o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980 que marcou a cisão entre o PAIGC e o que viria a ser, a partir daí, o PAICV em Cabo Verde, Pedro Pires considera que isto foi a tradução de uma transição política mal conduzida na Guiné-Bissau."Em certa medida, foi uma surpresa mas, de outro lado, não teria sido uma surpresa completa. Depois de uma luta bem concebida, depois de uma luta vitoriosa, se coloca -eu acho- a questão da transição. Passar de movimento de libertação a partido dirigente, passar de combatente armado a líder político, há mudanças que terão que ter lugar. Uns gerem bem e outros gerem mal essa transição. Significa que na Guiné, a transição não foi bem gerida, que deu num golpe de Estado (...). Os golpes de Estado não resolvem os problemas políticos" declara o antigo Presidente de ...
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  • 50 anos da independência da Guiné-Bissau: os guineenses que serviram sob a bandeira portuguesa
    2023/09/22
    A Guiné-Bissau comemora no próximo dia 24 de Setembro os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propõe desde esta segunda-feira e até domingo uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Hoje, no décimo episódio desta série, debruçamo-nos sobre a situação dos guineenses que participaram na guerra sob a bandeira portuguesa. Depois do 25 de Abril e com o reconhecimento da independência da Guiné-Bissau por Portugal no quadro do acordo de Argel rubricado em Agosto de 1974, ambos os países comprometeram-se a encaminhar relações de amizade e a implementar um plano de reintegração na vida civil dos cidadãos guineenses que tivessem prestado o serviço militar nas forças armadas portuguesas.Contudo, no período que seguiu a independência, perante informações sobre riscos de desestabilização por parte de unidades de elite, os chamados 'comandos africanos', foram perseguidos, presos, torturados ou executados centenas de antigos militares guineenses que tinham servido do lado de Portugal. Julião Soares Sousa, historiador guineense ligado ao centro de estudos interdisciplinares da Universidade de Coimbra, dá conta do contexto que se vivenciou na altura."A partir de 1973, depois da proclamação unilateral da independência da Guiné, houve algumas tentativas dos 'comandos africanos' de constituírem um exército à margem para depois impedirem que a independência da Guiné ganhasse raízes e provocar uma guerra civil à semelhança do que aconteceu em Angola e depois em Moçambique, mais tarde. Se não fosse o regime de Sékou Touré, provavelmente nós hoje estaríamos a falar de uma outra Guiné que não esta que nós conhecemos e que está completamente independente. Foi a partir da embaixada da Guiné Conacri no Senegal que se descobriu as movimentações dos 'comandos africanos' a fazerem penetrar armamento vindo de Lisboa lá com o apoio de alguns grupos aqui da extrema-direita", relata o universitário.Foi também no âmbito do acordo de Argel que Portugal se comprometeu "a pagar as pensões de sangue, de invalidez e de reforma a que tivessem direito quaisquer cidadãos da República da Guiné-Bissau por motivo de serviços prestados às forças armadas portuguesas".Contudo este compromisso não foi respeitado segundo Amadu Jau , presidente da ADECOFARP, Associação dos ex-Combatentes Deficientes das Forças Armadas Portuguesas na Guiné-Bissau. Ao referir que continuam vivos apenas 5 mil dos cerca de 40 mil guineenses que terão servido sob a bandeira portuguesa durante os anos 60 e 70, o dirigente associativo reivindica o pagamento de pensões para esses veteranos de guerra e a restituição da nacionalidade portuguesa. "Todos foram defensores da pátria portuguesa. Agora, a situação com que nos estamos a deparar é uma situação de abandono por parte de Portugal", argumenta.Abel de Barros, antigo militar guineense que lutou sob a bandeira portuguesa, refere que foi recrutado e que não foi voluntariamente para o combate. "Fomos recrutados mediante uma lista nominal e fomos à inspecção, fomos recrutados e fomos cumprir o nosso serviço em Bolama e dali, prestamos juramento à bandeira e fomos distribuídos para as unidades", conta o antigo combatente. Questionado sobre a eventualidade de ter ponderado alistar-se do lado independentista, o veterano de guerra nega. "Concretamente, éramos colonizados, sob o regime português, portanto não podíamos ir para a luta de libertação", explica.Também antigo militar guineense inserido no exército português, António Dadi Camará conta que foi chamado para ir cumprir o serviço militar e que não tinha entrado na guerra por convicção. "Eu estava empregado na câmara municipal de Bissau" começa por contar o veterano referindo que "quando chegou a hora de ir para tropa, era necessário ir cumprir a sua missão" e que "como português, foi cumpri-la". Relativamente ao período que seguiu a independência e as perseguições de que foram alvo os militares guineenses que tinham combatido do lado do regime colonial, o militar dá conta de mortes "bárbaras". "Alguns tiveram que fugir mas depois tiveram má sorte. Não gosto de estar a recordar o que se passou aqui na minha terra", refere o antigo combatente antes de concluir num suspiro, "é a guerra".A partir desse momento, entrou-se num novo ciclo de caos na óptica do historiador Julião Soares Sousa. "Creio que o regime aí cometeu alguns erros porque nem toda a gente que foi metida dentro desta situação concreta de alguns sectores residuais dos 'comandos africanos' esteve metido em nada. Algumas dessas pessoas acabaram por ser mortas. Isto é um aspecto que nós podemos enquadrar naquele período revolucionário da independência e que, às vezes, impede que as pessoas pensem bem naquilo que estão a fazer. O facto de ter havido algum grupo residual dos 'comandos africanos' a tentar ...
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  • 50 anos da independência da Guiné-Bissau: a morte de Cabral e a conquista da liberdade
    2023/09/22
    A Guiné-Bissau comemora no próximo dia 24 de Setembro os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propõe desde esta segunda-feira e até domingo uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Hoje, no nono episódio desta série, debruçamo-nos sobre a forma como foram vividas, com poucos meses de intervalo, a morte de Amílcar Cabral e a independência da Guiné-Bissau. Depois de várias tentativas falhadas, na noite de 20 de Janeiro de 1973, Amílcar Cabral foi morto à porta da sua casa em Conacri por elementos pertencentes ao seu partido. Ao anunciar no dia seguinte o seu assassinato, o Presidente da Guiné Conacri, Sékou Touré, apontou um dedo acusador ao regime colonialista português.Ainda hoje, as circunstâncias exactas que resultaram na morte de Cabral geram debate entre os historiadores. O certo é que este assassinato causou uma onda de choque e de sideração. Francisca Pereira, antiga professora da escola piloto, recorda-se. "Nós tínhamos mesmo que estar acomodados, que estar mesmo decididos para dar continuidade à obra de Amílcar Cabral, porque eu lembro-me bem. Quando nos encontramos com Amílcar Cabral em Moscovo, pedi audiência com Amílcar Cabral (...). Amílcar estava a explicar-me o que estava a acontecer em Conacri, indisciplina. Quando respondi a Amílcar, eu lembro-me, pus-me a chorar. Para me acalmar, ele disse 'se matarem o Amílcar, vai aparecer mais Amílcares", conta Francisca Pereira.Agnelo Regala, antigo redactor da Rádio Libertação fala de um momento de muita consternação mas também de determinação. "Esse assassinato teve um impacto enorme. Houve um período de quebra moral da parte dos combatentes, porque ninguém esperava que isto acontecesse, embora no seu último discurso, Amílcar Cabral tivesse deixado claro que haveria sempre essa hipótese, mas deixando claro também que nem a sua morte provocaria a paragem da luta de libertação nacional", relata.Aquando da morte de Amílcar Cabral, o general e antigo combatente Fodé Cassama encontrava-se na União Soviética, na academia militar. "A morte de Cabral nos surpreendeu. Na altura estava na antiga União Soviética, num centro de preparação militar. Depois das aulas, regressamos para o almoço. Depois do almoço, os russos nos informaram de que o Amílcar Cabral tinha sido assassinado. Estávamos muito tristes, outros estavam a chorar, mas os russos disseram-nos que o revolucionário não se chora com lágrimas mas com acções", recorda o militar.Esta situação gerou um momento de incerteza quanto ao futuro, um vazio que todavia acabou por ser rapidamente preenchido, refere Julião Soares Sousa, historiador guineense ligado ao centro de estudos interdisciplinares da Universidade de Coimbra. "Isto gerou alguma situação de medo, de temos por aquilo que podia acontecer à luta armada de libertação nacional, mas creio que também teve o outro lado das pessoas terem ganho coragem para pôr fim ao regime colonial português. Creio que até o conflito endureceu mais até, tendo em conta as acções que foram preparadas a partir de finais de 1972 e início de 1973, as acções militares foram muito mais violentas do que antes", observa.Meses depois do assassinato de Cabral, no dia 24 de Setembro de 1973, nas matas de Madina do Boé, no leste do país, Nino Vieira, primeiro presidente da Assembleia Nacional Popular, proclamou a independência do país e a consagração da sua Constituição, o ponto culminante de um processo durante o qual os habitantes das zonas libertadas tinham elegido os seus representantes no ano anterior.O general Fodé Cassama estava lá nesse dia histórico. "Eu participei. Fui um dos elementos da cobertura antiaérea do evento (...). Nós chegamos no sítio no dia 22 (de Setembro), preparamos os sítios, montamos a defesa antiaérea da zona; no dia 23, os deputados fizeram a abertura da sessão e, no dia 24, proclamaram o Estado. Nós ficamos no sítio até ao regresso de todos os elementos, de todos os deputados. Infelizmente, neste momento, dos deputados que proclamaram a independência, só estão de vida 11 pessoas", revela.Iancuba N'Djai, político e antigo aluno da escola-piloto, então a estudar na URSS, acompanhou a cerimónia de proclamação da independência pela televisão. "A gente ficou satisfeitíssima. Afinal Cabral tinha razão, mas todos sentíamos pena. Sentíamos muita pena por Cabral não assistir a este acto histórico" recorda o político que diz ter ficado convencido de que "ele estava lá, a sua alma estava lá".Também para Agnelo Regala, este foi um dia de esperança. "Foi um dia extremamente importante, marcante, com os combatentes reunidos porque houve a constituição da Assembleia Nacional Popular, deixando claro que, efectivamente, durante a guerra de libertação não foi só a guerra pela libertação do país, não foi só a componente armada, mas ...
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  • 50 anos da independência da Guiné-Bissau: a escola-piloto de Amílcar Cabral
    2023/09/22
    A Guiné-Bissau comemora no próximo dia 24 de Setembro os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propõe desde esta segunda-feira até domingo uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Hoje, no quinto e no sexto episódio desta série, debruçamo-nos sobre a importância dada por Amílcar Cabral à educação, para a criação de um 'homem novo' emancipado do sistema de ensino e de valores do colonizador. Neste sentido, na sequência do Congresso de Cassacá, o PAIGC cria em 1964 a escola-piloto com o intuito de apoiar os filhos dos combatentes e os órfãos de guerra. Instalada em Conacri de onde os independentistas conduziam as suas operações, a escola-piloto viu o seu conceito de educação ser estendido a outras escolas que foram sendo erguidas nas zonas libertadas. os jovens que frequentaram esse sistema de ensino ficaram conhecidos como os "meninos de Cabral".Julião Soares Sousa, historiador guineense ligado ao centro de estudos interdisciplinares da Universidade de Coimbra, que tem sido o nosso fio condutor nesta digressão, detalha o que era a Escola-Piloto. "Amílcar Cabral considerava que o povo devia ter direito à educação. Essa educação que foi gerada pelo PAIGC no interior do território, nas áreas libertadas, mas também em Conacri e no Senegal, essas escolas eram o motor da reacção contra a presença colonial portuguesa, a presença histórica do colonialismo português, que tinha também os seus reflexos na educação e na cultura. Com base nisso, a cultura e a educação também aparecem como uma forma de resistência à colonização portuguesa", refere o universitário."Ele vai tentar fazer algo que fosse totalmente diferente do regime colonial porque uma altura em que ele dizia 'nós temos que ensinar às crianças a importância que o PAIGC tem nas suas vidas, porque o próprio colonialismo também fala no milagre de Fátima, fala do colonialismo português como se fosse uma coisa muito importante para nós. Nós temos que saber também fazer oposição a esse tipo de escola. Nós temos que criar a nossa própria escola com base nas nossas próprias raízes'", acrescenta.Apesar de criar um conceito novo de educação dirigido à população do seu país, Amílcar Cabral vai optar por privilegiar o ensino da língua portuguesa, como língua de trabalho e formação. Uma escolha que gera debate entre os seus apoiantes."De facto, havia uma pressão de algum grupo dentro do PAIGC que achava que se devia ensinar nas línguas nacionais e Cabral não cedeu a esse tipo de pressão porque achava que a língua portuguesa era a maior riqueza que os portugueses tinham deixado e nós devíamos aproveitar, porque não se podia ensinar às crianças, por exemplo, aspectos relacionados com a ciência, ele às vezes até usava o exemplo de o Homem ir à lua, muitas das vezes para ensinar as crianças. Como é que se podia dizer raiz quadrada em Balanta, Fula ou Mancanha? Ele usava muitas vezes estes exemplos para mostrar a importância que a língua portuguesa tem", explica o historiador.Noutro quadrante, a escola-piloto também foi um dos instrumentos de valorização e emancipação da mulher guineense, como parte integrante da luta pela independência da Guiné-Bissau.A guerra de libertação teve as suas heroínas. A mais conhecida é Titina Silá, jovem combatente que morreu numa emboscada no norte da Guiné em Janeiro de 1973 quando estava a tentar viajar rumo a Conacri para prestar uma última homenagem a Cabral quando foi assassinado. Outras mulheres, como Teodora Inácia Gomes ilustraram-se igualmente nas frentes de combate e na política, sendo que a Escola-Piloto foi uma dessas outras frentes em que mulheres, como a activista cabo-verdiana Lilica Boal, ou ainda a diplomata e feminista Francisca Pereira foram muito activas.Ao recordar como entrou nesta luta, primeiro como tesoureira do partido, em Conacri onde vivia desde 1958, Francisca Pereira, que foi vice-directora e também professora da escola-piloto, refere que assumiu o papel de formadora mas igualmente de mãe. "Tinha a área não só da educação feminina, tinha também a área de preparativos. Havia crianças que não sabiam comer com faca e garfo. Tinha essa responsabilidade de (ensinar) como se vestir, como se deitar, de como se portar e também dava formação de segunda classe, aprender a ler, a escrever. (...) Assumi o cargo de mãe, mas também o cargo de preparar as crianças para serem seguidores da obra de Cabral no futuro".Dois antigos alunos da escola piloto, Califa Seidi, actual líder parlamentar do PAIGC, e outro responsável político guineense, Iancuba Ndjai, evocaram também os anos passados naquela estrutura.Ao recordar o seu percurso na escola-piloto onde integrou os primeiros grupos de alunos, Iancuba Ndjai refere que naquela época se "criou toda uma cadeia de formação de quadros exactamente no ...
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